Conhecer o fim do mundo é um
desafio interessante até para os viajantes mais experientes. Lá é frio no verão
e congelante no inverno, um ambiente hostil para qualquer aventureiro. E é
assim que nós gostamos. Quando se escolhe fazer o percurso de carro o fim do
mundo fica um pouco mais longe, mas mais instigante.
Ushuaia recebe o título de cidade
do fim do mundo (apesar da contrariedade dos chilenos) por ser a cidade mais
austral da Terra, ou seja, a mais próxima da Antártica. A cidade faz parte da
Patagônia, região mais meridional da América do Sul que abrange lugares da
Argentina e Chile, apresentando paisagens de tirar o fôlego.
Não é a toa que diversos
viajantes colocam a Patagônia na lista de desejos, emoldurada pela Cordilheira
dos Andes a região apresenta cenários exuberantes.
Em trinta dias é possível
desvendar boa parte do seu território de carro, porém é difícil conhecê-la completamente
neste tempo. A melhor ideia é escolher lugares específicos. Lembre-se que
viajar de carro requer mais tempo do que uma passagem de avião. Mas cuidado,
viajar de carro é viciante! Apresenta formas, cores e lugares de um país
desconhecido até mesmo para as cidades turísticas.
Ao mesmo tempo todo cuidado com o
seu precioso carro é necessário, afinal ele é seu melhor amigo durante a
viagem. Antes da viagem, faça revisões periódicas e converse com um mecânico
sobre a possibilidade do carro suportar todo esse tempo viajando por aí.
O Brasil faz divisa com a
Argentina, porém com a fama de policiais corruptos, é pelo Uruguai que muitos
viajantes se sentem mais confortáveis para adentrar ao país. Da fronteira
uruguaia, Chuí, até Colônia del Sacramento percorre-se aproximados 500 quilômetros.
Sendo uma ótima oportunidade para conhecer nosso vizinho sulista.
Uma hora para comer umas empanadas, conhecer “Los Dedos” e de deixar boa parte dos pesos uruguaios em Punta Del Leste, seguimos para Colônia del Sacramento. Ô cidade bonitinha! Foi ali que escolhemos dormir em um camping que não cuida do lugar que tem. O centro histórico de Colônia vale a visita, as construções históricas e árvores fazem um belo conjunto com o rio da Prata. Era 24 de dezembro e chivito, prato típico do país, foi a nossa escolha de ceia
Punta Tombo
Nossa saga continuava, dias com sol e chuvas, estrada de uma reta só até encontrarmos o rípio (estrada de pedra) que diminui nossa velocidade, mas com cuidado conseguimos termina-la com somente um pneu furado. Chegávamos à primeira fronteira, o Chile estava ali. Repare no mapa mundi, por incrível que pareça para chegar ao fim do mundo, deve-se passar pelo país chileno. E não é só ali que isso acontece, por diversos pontos da Patagônia passa-se da Argentina para o Chile e vice-versa, diversas vezes.
Isla Escondida
Cruzamos a fronteira mais organizada da viagem, em um mesmo local fizemos saída e entrada dos países. Alguns quilômetros de rípio depois, entrávamos na Argentina novamente. Ushuaia se aproximava e as montanhas com neve nos recepcionavam. É mágico saber que está chegando ao fim do mundo. Chegamos em Ushuaia e corremos para ver a famosa placa do fim do mundo (só para te avisar: ela fica em meio as árvores do lado do píer que saem os barcos de passeio).
Foram três dias desbravando o fim e posso afirmar uma coisa: o tempo lá é instável e faz frio no verão. Chegamos a pegar zero grau celsius e chuva. Por sorte, conhecemos o Parque Nacional Tierra Del Fuego em dia de sol. Mas em Ushuaia é assim, muda-se o tempo todo. A tarde já estava nublado novamente.
Laguna Verde em Torres del Paine
O parque possui trilhas para todos os gostos: curtas, longas, íngremes, tranquilas. Porém é ali que termina a Ruta Nacional 3, a estrada que inicia em Buenos Aires e nos acompanhou até Ushuaia. Foram 3.063 quilômetros só nessa rota. Conhecemos o farol do fim do mundo e a diversa vida marinha do local, mas o tempo de férias era cronometrado e tínhamos mais para conhecer.
A nossa próxima parada era o Parque Nacional Torres del Paine, no Chile. De Ushuaia, atravessamos o Estreito de Magalhães novamente com destino a Punta Delgada e de lá para Puerto Natales. Um pequeno atraso de 7h30 na balsa por causa dos ventos patagônicos (Viento, mucho viento!) nos possibilitou colocar a leitura em dia. No dia seguinte, a estrada já nos data pistas da beleza que encontraríamos no parque. E ela surpreendeu. As cores do parque são uma oscilação incrível entre azul, cinza, verde e branco. As acomodações variam de hotéis luxuosos a campings organizados, a nossa escolha. De dentro da barraca observávamos as pontinhas das torres que dão nome ao parque. E foi prá lá que fomos no dia seguinte, até a base das Torres. Foram 8 horas de subida e descida que valem cada passo. Paine significa azul para os índios Aoinikenki. E o tom de azul é por causa do solo local. Eu realmente conheci um novo tom de cor.
Infelizmente, teríamos que dar
tchau para mais um lugar especial. O gostinho de voltar ficou nas borboletas
que formaram no nosso estômago apaixonado. Mas nosso próximo destino era muito
aguardado. Conheceríamos a terceira maior área com gelo do mundo, o Glaciar
Perito Moreno nos aguardava imponente. Mal sabia eu que El Calafate me
conquistaria. A cidade natal da presidente argentina se apresentou super
chamosa. A única rua que cruza a cidade leva após setenta quilômetros ao
sonhado glaciar além do Glaciarium, o museu com o tema gelo. No mesmo museu
ainda encontramos o bar de gelo, sucesso entre os visitantes que permanecem por
25 minutos no open bar feito totalmente de gelo. Não se preocupe com as roupas,
estão inclusas no preço de entrada ;)
Para conhecer o parque há
diversas atividades opcionais disponíveis, escolhemos o minitreeking sobre o
glaciar onde durante 5 horas de passeio, se caminha por 1h30 no próprio gelo. No valor de entrada do parque está incluso o
acesso à bem estruturada passarela com visão ampla do glaciar: avista-se cinco
quilômetros de largura e 60 metros de comprimento. Os sons de pedaços de gelo
caindo soam como trovões e nos relembram a força da natureza.
Península Valdez
De El Calafate a Patagônia continua gelo acima. Pela Ruta Nacional 40 sobe-se ao norte de Bariloche, sempre brincando de conhecer o lado chileno e argentino. Mas para nós a viagem estava tomando o rumo de casa. Com trinta dias, pouco tempo para continuarmos pela ruta 40, optamos por retornar ao Brasil e conhecer alguns outros pontos pelo caminho. Foi então que paramos na Península Valdez, esculpida pela água o local forma paisagens de tirar o fôlego na sua costa. Há três mirantes bem próximos ao mar. Lobos e leões marinhos fizeram a festa, somente a orca não estava por lá.
A próxima parada foi um delicioso domingo por San Telmo, em Buenos Aires. Verão, arte e história reunidos na feirinha do bairro portenho. Buenos Aires sempre é uma boa opção. Mas nosso relógio chamava e paramos no Mercado do Porto de Montevideo, no Uruguai, para escolher uma carne dentre tantas opções.
Igrejinha de Canela - RS
Gramado e Canela também entraram no roteiro e são encantadoras até no verão. Uma escapadinha para Três Coroas – RS nos presenteou com a visitação do belo templo tibetano Kadro Ling, sede do Chagdud Gonpa Brasil (organização de estudo do Budismo tibetano). A paz, aqui, é colorida e silenciosa.
Já nos aproximávamos de São Paulo
e de nossas obrigações, era hora de agradecer a segurança de rodar 14.622
quilômetros com um carro de passeio sem danos ao carro e a seus tripulantes. Obrigada
férias, até a próxima!
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