Planejamento
por Eliana Loureiro
TPA: Boas surpresas durante a viagem ou seu planejamento?
D.C.: Muitas
surpresas, como encontrar um casal com dois filhos pequenos quando visitava o
castelo cruzado de Krak de Chevalier, na Síria, ficar amigo deles, descer para
o Líbano com eles, descobrir que tinham um veleiro na marina de Beirute, e ser
convidado para ficar a bordo.
TPA: E más surpresas?
D.C.: Algumas más
surpresas, como sofrer um acidente de moto na Turquia, quando visitava as
cidades subterrâneas na Capadócia. O médico no hospital para onde fui não
falava inglês e eu não falava turco. Mas tudo tem a sua compensação, e o
pessoal do hotel onde eu estava foi superlegal comigo, me ajudando de todas as
formas possíveis. Também meus amigos velejadores, que me esperaram por quatro dias
em Istambul, e como eu não podia caminhar pela cidade, pois ainda estava com
problemas, me levaram para velejar e conhecer toda a cidade pelo Bósforo.
TPA: Já passou por alguma dificuldade durante a viagem? Como resolveu?
D.C.: Quando
morava na Bélgica, saí num final de semana para conhecer Luxemburgo de carona.
Na ida foi tudo bem, mas na volta, peguei uma carona com um sujeito estranho,
num carrão americano. Ele me convidou para tomar um café na beira da estrada, e
aceitei. Daqui a pouco o sujeito se levantou e saiu, achei que tinha ido ao
banheiro. Ele demorou muito, fui até o estacionamento, e descobri que ele tinha
sumido e levado com ele toda a minha bagagem, passaporte, dinheiro, cartão do
banco, tudo! Tive que dar mil explicações para a dona do café, pois ele ainda
saiu sem pagar nada! Precisei ir até a polícia e ao banco, que por sorte tinha
uma agência na vilazinha. Fiquei no meio da Bélgica com as mãos abanando, e o
que é pior, sem passaporte! Por sorte, a polícia conseguiu encontrar o meu
passaporte e alguns pertences jogados na estrada, mas o sujeito usou meu cartão
até onde pode... Como eu avisei logo no banco, entretanto, consegui reaver o
dinheiro em 30 dias por meio de um seguro.
TPA: Já
mudou seu planejamento quando estava no lugar? Por quê?
D.C.: Já mudei
várias vezes o planejamento de viagens, pois, às vezes, os lugares que pensamos
serem interessantes acabam não sendo, então, ficamos menos tempo neles, e
outros que à primeira vista não tinham nada, acabam se revelando muito mais
interessantes. Também por atrasos de viagem, problemas em carros (já furei pneu
duas vezes nos EUA); acabamos passando alguma atração que estava programada,
mas não deu pra parar.
TPA: O que mais gosta de conhecer para os lugares onde viaja: a comida,
a cultura, o povo? Ou algo mais?
D.C.: O que mais
gosto de conhecer são ruínas, testemunhos de antigas culturas ou civilizações.
Lugares fascinantes como as Pirâmides e Templos do Egito, a Ilha de Páscoa, que
pertence ao Chile, os Templos Maias no México, Stonehenge na Inglaterra, o Muro
das Lamentações em Israel, Petra na Jordânia, Palmira na Síria... Claro que
também a cultura local, a comida e principalmente, as pessoas! Tenho amigos
pelo mundo todo, pelas viagens que fiz!
TPA: Sei que você está viajando no momento. Pode contar um pouco sobre
essa viagem?
D.C.: Estou no
momento no Canadá, em Vancouver, na British Columbia. Estive no final de semana
com amigos que estão morando em Montreal, no Quebec. Lá estava nevando e me
diverti muito na neve. Aqui em Vancouver nessa época do ano é meio chato, pois
chove o tempo todo. A cidade é muito bonita e as montanhas e lagos da região
são maravilhosos. Os canadenses são muito educados e tentam ser simpáticos
com todos. O país todo é um mosaico de imigrantes, muitos asiáticos, mas tem de
tudo. Aqui são muito tolerantes com todas as pessoas e valorizam todas as
expressões culturais. Teve uma festa de Saint Patrick, padroeiro da Irlanda, e
fizeram uma parada que passou bem na frente do prédio onde estou. Tem muitos
irlandeses aqui, então, a festa é bem popular. Mas o engraçado da diversidade é
que as outras culturas aproveitam pra se apresentar também, então, teve
escoceses, chineses, passando com o dragão, indianos, um samba do crioulo
doido. Assisti a uma apresentação de dança irlandesa muito bonita, é um
sapateado bem interessante. O melhor período para conhecer Vancouver mesmo é no
verão, pois a cidade se torna muito agradável. Minha experiência aqui, apesar
da chuva diária, tem sido muito boa.
“Não vou dizer que tenho uma programação
financeira pra viajar porque eu, na verdade, gasto todo o meu dinheiro com
viagens. É uma escolha pessoal"
TPA: Como escolhe seu próximo destino?
D.C.: Os próximos
destinos são escolhidos por conveniência, por exemplo, se tenho alguma viagem a
trabalho, posso acoplar alguns dias de férias e aproveitar algum local próximo.
Busco sempre conhecer lugares novos, principalmente países. Mas alguns locais
são tão bons que acabo voltando sempre, como Paris e Londres.
TPA: Como faz para planejar o roteiro da sua viagem? Quais recursos,
ferramentas utiliza?
D.C.: Eu utilizo
muitíssimo a internet. Fazendo as reservas de hotéis e voos com antecedência se
consegue ofertas muito boas. Utilizo muito o Google Earth para calcular viagens
de carro, pois dá pra fazer uma boa estimativa de tempo de viagem. Meus guias
preferidos são os do Lonely Planet (www.lonelyplanet.com) (existe também o site em
português no endereço www.lonelyplanet.com.br), especialmente os “on a
shoestring” (expressão em inglês que significa pouco dinheiro – é possível comprar
guias no site com dicas para quem quer fazer esse tipo de viagem mais barata),
pois apesar de não mochilar mais, eu acho que sempre é bom cortar gastos
desnecessários. Também sempre dou uma olhada naquele livro “Mil lugares para
conhecer antes de morrer”, pois, às vezes, tem alguma atração interessante bem
perto de onde a gente está, só a alguns quilômetros fora da rota, e é bom
aproveitar! Também converso muito com amigos que já foram para os lugares onde
quero ir. Às vezes, recebo dicas de locais que desconhecia completamente, como
foi o caso de Los Roques, na Venezuela, um paraíso maravilhoso que pouca gente
conhece.
Mergulho usando snorkel em Los Roques, Caribe Venezuelano.
Mergulho usando snorkel em Los Roques, Caribe Venezuelano.
Foto: arquivo pessoal.
TPA: A internet é uma importante aliada no planejamento da sua viagem?
De que forma?
D.C.: Tem alguns
sites que eu uso muito. Para planejamento, uso bastante o www.airbnb.com, que permite alugar lugares fantásticos,
desde trailers, barcos, casas malucas, faróis, até coisas mais prosaicas como
um quarto no apartamento ou casa de alguém. Uso, agora menos (Daniel se casou
há quatro anos), o www.hospitalityclub.org, pelo qual se pode ficar de graça na casa de
uma pessoa, e também receber pessoas se quiser. Claro que os locais são mais
simples, às vezes só um sofá, mas também já dei sorte, como quando fiquei em
Cape Town, na África do Sul, na casa de uma engenheira. Era um condomínio top,
instalado em uma suíte de cinema! Uso também para alojamento o www.booking.com, que dá uma boa escolha de hotéis. Para
passagens aéreas inicio geralmente pelo www.decolar.com para uma visão geral das companhias que voam
para a localidade que quero, e depois vou ao site das próprias companhias
aéreas. Um casal inglês que recebi na minha casa pelo Hospitality Club tem um
site bem interessante, que dá dicas de como viver mais barato, entregando
trailers, cuidando de casas, pegando ofertas de cruzeiros de última hora etc...
O site é www.glenswatman.blogspot.com. Bem útil.
D.C.: Privilegio
sempre ter uma experiência nova. O dinheiro pode ser gasto de várias formas, eu
opto por economizar no dia a dia, mas também me dou oportunidades de conhecer
hotéis melhores. Pelo menos uma diária em um hotel superinteressante eu planejo
me dar de presente. Assim, acredito enriquecer a experiência. Por exemplo, na
minha viagem de lua de mel pelos Estados Unidos, resolvi economizar na maioria
dos hotéis, mas em um, eu gastei mais, o Madonna Inn, em San Luis Obispo, na
Califórnia, que só tem quartos temáticos. Ficamos na Cave Man Suite (uma suíte temática de homem das cavernas), e foi
muito divertido!
“Para mim, o bom da viagem começa com a
ideia, a vontade de visitar um lugar. Depois, vem o planejamento, no qual a
gente já começa a viajar. E depois, a viagem propriamente dita. Planeje com
antecedência. Pesquise as diversas alternativas!”
TPA: Como você se planeja financeiramente para suas viagens?
D.C.: Planejo financeiramente tudo, desde as providências em
casa (com quem os cachorros ficarão), até a forma de locomoção mais adequada.
Pesquiso muito, por exemplo, se ir de trem, ônibus, barco ou carro sairia mais
barato. Claro que depende da viagem e do que quero ver. Quando vou para a
Europa, por exemplo, sempre procuro usar o leasing
de carro ao invés do aluguel, pois sai pela metade do preço, o carro é zero km,
tem seguro total sem franquia e assistência técnica 24 horas, 7 dias por
semana, em toda a Europa. Quando chego às cidades já estudei antes o transporte
público e sei qual cartão vale mais a pena comprar. Uso muito as milhas das
companhias aéreas, já viajei pela TAP para Londres em classe executiva só com
milhas. Claro que viajar não é barato, mas também
pode não ser tão caro assim se a gente se programa. Não vou dizer que tenho uma
programação financeira pra viajar porque eu, na verdade, gasto todo o meu
dinheiro com viagens. É uma escolha pessoal. Tem gente que acha importante
trocar de carro todo ano, eu me contento em ter um carro bom, de qualquer ano,
que me sirva bem e gasto o dinheiro viajando!
TPA: Quais dicas, conselhos ou sugestões você dá para quem quer viajar?
D.C.: Pesquisar,
pesquisar, pesquisar. Para mim, o bom da viagem começa com a ideia, a vontade
de visitar um lugar. Depois, vem o planejamento, no qual a gente já começa a
viajar. E depois, a viagem propriamente dita. Planeje com antecedência.
Pesquise as diversas alternativas! Ônibus geralmente são mais baratos do que
trens de uma cidade para a outra da Europa. Os trens oferecem uma infinidade de
passes que são mais ou menos adequados, dependendo do número de dias, número de
cidades visitadas, enfim... Se você comprar as passagens aéreas com o cartão de
crédito, o seguro é grátis, inclusive o Schengen para a Europa (Assistência em viagem
obrigatório para viagens dentro da comunidade europeia, com valor mínimo de
30.000 euros para garantir assistência médica por doença ou acidente), é só
pedir para o cartão, tanto de Visa quanto de Master.O concierge dos cartões é muito útil para comprar
passagens locais (ex.: ônibus no Chile), entradas para espetáculos, atrações,
mandar flores para a sua amada... Funciona!
Leve sempre os dados dos documentos que está carregando em um papel à parte, para mais facilmente tomar as medidas adequadas em caso de roubo. É bom até ter duas ou três cópias dos telefones importantes em locais estratégicos separados. Bom, as dicas são muitas e variam com o tamanho da viagem. Mas há muitos sites especializados em viagens que podem ajudar.
Leve sempre os dados dos documentos que está carregando em um papel à parte, para mais facilmente tomar as medidas adequadas em caso de roubo. É bom até ter duas ou três cópias dos telefones importantes em locais estratégicos separados. Bom, as dicas são muitas e variam com o tamanho da viagem. Mas há muitos sites especializados em viagens que podem ajudar.
Viajar é como amar. A gente passa a ter uma
conexão com os lugares que conhece, especialmente por meio das pessoas. A maior
riqueza que eu acumulei nesses anos todos foi a quantidade de amigos com a qual
fui presenteado. É o maior tesouro do viajante!
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