Gaúcho de 59 anos, que acaba de atingir a marca, conta como planeja suas viagens;
além das histórias, os encontros e os amigos que fez mundo afora, inclusive uma rainha.
por Eliana Loureiro
A trilogia “O Senhor dos Anéis” se inicia
com o conselho do personagem Bilbo Bolseiro a seu sobrinho e herdeiro Frodo:"...
É perigoso sair porta afora, Frodo...Você pisa na estrada, e se não
controlar seus pés, não há como saber até onde você pode ser levado..."
É
essa frase que me vem à mente ao conversar com Daniel Conrado, um
gaúcho de Porto Alegre, de 59 anos, administrador com mestrado em
Gestão Ambiental, que trabalha como consultor, atualmente com análise
de riscos para grandes eventos. Conrado começou a viajar para o exterior
aos 22 anos, mas antes disso já viajava de carona pelo Brasil, no
melhor estilo mochilão.
Hoje,
37 anos depois, Conrado acumula amigos das mais diversas
nacionalidades; o casamento com uma estadunidense; fluência em quatro
línguas, noções de outras cinco; vivência por pelo menos um mês em dez
países diferentes; e muita história interessante pra contar (conheceu
até a rainha da Jordânia!).
Conversei
com Daniel Conrado por e-mail, pois, claro, ele está em mais uma de
suas viagens (atualmente está no Canadá), uma viagem importante,
uma vez que acaba de atingir a marca de 50 países visitados. Quase um
país visitado por ano, 26% de todo o planeta desbravado. Uma experiência
de vida que será comemorada com uma grande festa, no melhor estilo do
setuagésimo décimo primeiro aniversário do
personagem Bilbo, que abre a saga de J.R.R.Tolkien.
Na ilustração, todos os países visitados por Daniel Conrado marcados com um alfinete vermelho.
Arte: Adriano Lima
Turistando por aí:
Podemos afirmar que você é um apaixonado por viagens? Se sim, você sabe dizer quando começou essa paixão?
Daniel Conrado:
Sou
completamente apaixonado por viagens. Lembro-me da primeira vez que fui
a Santa Catarina, mais especificamente a Garopaba, eu devia ter uns 12,
13 anos. O caminho incluía
uma subida de morro, e quando o carro chegou lá em cima, eu fiquei
extasiado com a visão do mar azul, muito diferente do que eu estava
acostumado. Aquilo me marcou tanto, que depois dali eu nunca mais tirei
as viagens da cabeça, e sempre que podia, viajava!
“Lembro-me
da primeira vez que fui a Santa Catarina, (...) eu devia ter uns 12, 13
anos. O caminho incluía uma subida de morro, e
quando o carro chegou lá em cima, eu fiquei extasiado com a visão do
mar azul, (...). Aquilo me marcou tanto, que depois dali eu nunca mais
tirei as viagens da cabeça, e sempre que podia, viajava!”
TPA: Você começou a viajar por uma necessidade de trabalho, aprendizado, ou foi apenas por lazer mesmo?
D.C.:
Comecei
a viajar aproveitando toda e qualquer oportunidade, fosse a trabalho,
para estudar, ir a encontros ou congressos, férias... Sempre dou um
jeito de encaixar uns dias
de férias em uma viagem a trabalho, por exemplo. E aproveito cada dia
para conhecer aquilo que me interessa.
Com o golfinho Andy no Blue Lagoon Island, nas Bahamas,local onde foi filmado A Lagoa Azul.
Foto: arquivo pessoal.
TPA:
Na
sua assinatura de e-mail, você usa uma frase do livro “Mar Sem Fim” de
Amyr Klink que afirma "Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa
viajar...” Explique a importância desta frase para você. É um lema para
sua vida?
D.C.:
A
frase do Amyr Klink se tornou um lema para mim. (...) Viajar para mim é
um estado de alma, uma necessidade. Se passo muito tempo sem viajar,
começa a me dar uma síndrome de abstinência. Eu preciso viajar!
TPA: Dos cinco continentes, quantos você conhece? Sabe dizer quantos países?
D.C.:
Conheço
os cinco continentes, mas bem menos a Ásia; até agora foram 47 países,
mas quando terminar esta viagem que estou fazendo agora (estou no
Canadá) serão 50 países.
Quando eu chegar de volta a Porto Alegre, pretendo fazer uma festa dos
50 países.
Daniel Conrado com amigos em uma viagem ao interior do Rio Grande do Sul.
Foto: arquivo pessoal.
TPA: Quantas línguas você fala? Quantas fluentemente?
D.C.:
Falo
quatro línguas. Fluentemente: português, francês, inglês e espanhol.
Consigo compreender italiano, mas falo muito pouco, sei algum alemão e
árabe, e consigo ler em russo.
TPA: Em quantos e quais países já viveu? Por quanto tempo em cada um? O que tem a contar sobre esses países?
D.C.:
Vivi
na Bélgica durante um ano, foi a minha primeira experiência de moradia
no exterior e foi muito importante, pois lá comecei a compreender melhor
o mundo, inclusive o meu próprio
país. Sempre que a gente se distancia do lugar onde nasceu e/ou foi
criado e/ou onde vive, podemos ter uma ideia mais clara dele. Na Bélgica
fiz o meu aprendizado de francês e conheci muitas pessoas. Bruxelas é
uma cidade internacional, sede da OTAN, do Parlamento
Europeu e de vários organismos internacionais. É chamada de “o
Carrefour da Europa” (Carrefour significa cruzamento em francês), pois
está próxima das grandes potências: França, Alemanha e Inglaterra. O
deslocamento é fácil. Além disso, é uma cidade muito
cultural. Lá me apaixonei pelo Balé do Século XX, e não perdia um
espetáculo. Era sócio de um cinema na esquina da minha casa, pagava por
mês e podia ir todos os dias, cada semana era um ciclo: Truffaut, Woody
Allen, Antonioni, Bertolucci, Fellini, Pasolini,
Resnais... Enfim, tudo de bom. Bruxelas tem muitas salas de jazz
também, que eu adoro.
Morei
na França (Paris) por dois anos, trabalhando nas mais diversas coisas,
sempre ilegal. Foi uma vida difícil. Passei também alguns meses na
Inglaterra
(Londres) e na Alemanha (Bad Godesberg, pertinho de Bonn).
Estudei e morei na Dinamarca (Elsinore), nos Estados Unidos (Cleveland), na Inglaterra, em outra ocasião (Dartington).
Morei
e trabalhei na Jordânia (Amã), para onde ia e voltava seguido, por
dois anos e meio. Trabalhava em um instituto que pertencia à
Universidade
das Nações Unidas, o braço acadêmico da ONU.
Morei
(se é que passar um mês pode ser morar) no México, Equador, Colômbia e
agora no Canadá. Dá pra aprender muito do cotidiano dos países quando
a gente está numa casa, tem que fazer compras, enfim, participa da vida
do país.
Daniel Conrado brinda à vida com uma cerveja sem álcool, em Siena, Itália.
Foto:
arquivo pessoal.
Daniel Conrado e sua esposa em visita ao Grand Canyon, nos EUA.
Foto: arquivo pessoal.
TPA:
Sei que você prefere fazer viagens que saiam do roteiro tradicional,
que você seja capaz de conhecer o dia a dia da população
nativa do lugar. Por que isso?
D.C.:
Eu
geralmente não faço viagens com pacotes, prefiro eu mesmo fazer o meu
roteiro, que na grande maioria das vezes acaba saindo fora do puramente
turístico. Eu gosto de explorar
locais diferentes, adoro visitar ruínas. Gosto de fazer contato com os
locais, com a população, aprender como vivem, o que pensam. Viajar é
sempre um aprendizado para mim. Começa antes da viagem propriamente
dita. Gosto de ler sobre os países que vou visitar, sua história, geografia, política e sociedade. Os povos que já
habitaram a região. As curiosidades. Saber um mínimo da língua, pois
isso aproxima as pessoas. Nem que seja olá, tchau, obrigado, meu
vocabulário em chinês.
“Viajar
é sempre um aprendizado para mim. Começa antes da viagem propriamente
dita. Gosto de ler sobre os países que vou visitar a
história, a geografia, a política, a sociedade. Os povos que já
habitaram a região. As curiosidades. Saber um mínimo da língua, pois
isso aproxima as pessoas. Nem que seja olá, tchau, obrigado, meu
vocabulário em chinês.”
Conrado realiza seu sonho de dirigir uma Ferrari vermelha em circuito de alta velocidade, em Las Vegas (EUA).
Foto: arquivo pessoal.
Foto: arquivo pessoal.
Em viagem a trabalho no Acre (sim, ele existe!).
Foto: arquivo pessoal.
Acompanhe o blog para a segunda parte da entrevista!
Nenhum comentário:
Postar um comentário