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quarta-feira, 30 de julho de 2014

A leve poesia de uma cidade - Rio de Janeiro!

A beleza do Rio de Janeiro não é baseada somente em suas curvas, cores e estilo. A beleza carioca está na magia literária, histórica e artística de seus bairros. Grande parte da história brasileira passou pela primeira capital do Brasil. Músicos ilustres possuíam casas em bairros fluminenses. Cantores eternizaram ruas em suas canções. Hoje em dia o entretenimento passa pela cidade e o Rio nos é apresentado pelas novelas globais. Ouso dizer que quando chegamos ao Rio de Janeiro, sinto que nossos pés são íntimos com as curvas que pisam no calçamento de Copacabana.

A história brasileira ganha parte da sua forma no Rio, no início do século XVIII, a chegada da família real portuguesa ao Brasil e a escolha da cidade como casa, desenvolveu o primeiro reinado por ali. Ao andar pelo Rio de Janeiro é praticamente impossível não notar os detalhes da família espalhados pelos bairros. Em São Cristovão, por exemplo, fica um dos pontos mais importantes. Era lá que ficava o Palácio Quinta da Boa Vista, moradia da família real de 1817 a 1889. Hoje, além de abrigar Museu Nacional seus jardins englobam um parque e o zoológico da cidade. Dentro ainda do mesmo terreno encontra-se o Museu do Primeiro Reinado – Solar da Marquesa de Santos, antiga residência temporária da Marquesa de Santos, a amante mais famosa de Dom Pedro I. Divergências históricas debatem a existência de um túnel entre as duas casas, aparentemente Dom Pedro I usaria para escapadas amorosas no meio da noite. 

O centro do Rio de Janeiro não passa despercebido. Diversos escritores brasileiros retrataram o centro e suas épocas. Já no século XIX, a cena carioca recebe Machado de Assis, “O bruxo do Cosme Velho” - apelido concedido a Machado por Carlos Drummond de Andrade - por morar na região do bairro Cosme Velho, mais precisamente rua Cosme Velho, 18. Mas Machado não morou somente na base do Corcovado, ele morou também no centro e utilizava vários pontos por lá. Na rua Santa Luzia (ao lado da estação Cinelândia do metrô), onde hoje é um prédio comercial, uma placa nos informa que o local já serviu de residência ao escritor e sua amada Carolina. Outro lugar frequentado por Machado foi o Real Gabinete de Leitura, pode-se dizer sem medo de errar que é um dos lugares mais imponentes do Rio de Janeiro.

Real Gabinete de Leitura

Ainda no centro do Rio, a Confeitaria Colombo é um lugar exuberante. Com objetos finos da época quando a cidade respirava arte. Fundada em 1894, a confeitaria fez parte de diversos momentos do Rio, sempre adicionando beleza aos encontros no centro.

Entre tantos visitantes ilustres, Carmem Miranda se destaca. Apesar de nascer e morrer no exterior – Carmem era portuguesa e morreu nos Estados Unidos - Carmem Miranda foi uma das mulheres mais brasileiras já conhecidas no país e no exterior (considerada na época como a mulher brasileira mais bem paga nos EUA). Ao chegar ao Rio, com dias de vida, sua família se instalou na região da Lapa e foi lá também que abriram uma pensão. Hoje para relembrar a rainha do rádio o quase esquecido Museu Carmem Miranda, localizado no Aterro do Flamengo, abriga objetos pessoais e um pouco da história de um dos nomes mais consagrados da música brasileira. Infelizmente não podemos nos empolgar, o museu está mal cuidado e o número de visitantes cai a cada dia.

Assim como Carmem Miranda, a escritora Clarice Lispector também escolheu o Rio de Janeiro como sua cidade. Nascida na Ucrânia e moradora de países como a Suíça e Estados Unidos, Clarice dizia que o Rio de Janeiro era o seu lugar. Em suas obras o bairro da Lapa é um dos lugares que mais marcaram alguns contos da escritora. O Leme, um dos lugares onde viveu, também é um dos lugares salpicados em suas obras. O Jardim Botânico serviu de inspiração para a autora, era onde gostava de passear na cidade. O projeto “O Rio de Clarice e de CarmemMiranda” oferece roteiros pelos bairros da escritora e artista, como o projeto é ainda pequeno, se não houver passeio aberto (em dias escolhidos por eles), o preço pode ser salgado.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Dizem as más línguas online que Clarice morou na Rua Gustavo Sampaio, 610 (Edifício Daniele), no Leme e era frequentadora do restaurante Shirley, ainda existente dividindo parede com o antigo edifício. Pelas descrições de Clarice, via-se o mar de sua janela, hoje outros edifícios já ocupam a vista, mas a localização do apartamento é valorizada: está há duas quadras da praia do Leme.

Para efeito de localização, a praia do Leme é a continuação da praia de Copacabana. E já que entramos na Zona Sul, não podemos deixar de citar a Bossa Nova. Não basta estarmos em plena canção, emoldurada pela praia com o som das ondas, no bairro de Ipanema podemos comer no restaurante Garota de Ipanema, onde Vinícius de Morais e Tom Jobim sentaram para escrever uma das músicas mais famosas do Brasil. Os leitores também se sentirão em casa na Zona Sul, em Copacabana encontra-se Carlos Drummond de Andrade sentado em forma de bronze em um banco, já no Arpoador, a figura de Millôr é encontrada em um banco moderno com vista à Ipanema.

Drummond em Copacabana

Para os adoradores de arte, a despedida aos nossos artistas favoritos acontece no Cemitério São João da Boa Vista. Nomes como: Ary Barroso, Cândido Portinari, Nelson Rodrigues, Cazuza, Tom Jobim, Chacrinha, Carmem Miranda, Carlos Drummond de Andrade descansam no cemitério de Botafogo.

Em um país como o Brasil, onde o amor ao futebol transpira na pele brasileira, visitar o Maracanã se tornou questão de honra. Para os adoradores da literatura e jornalismo lembrarão que os irmão Nelson Rodrigues e Mario Filho adoradores do futebol onde as histórias se fundem com o estádio.


Para os adoradores de novela global, a Rede Globo de televisão fica no bairro da Barra da Tijuca.

Palácio Quinta da BoaVista Avenida Pedro II, s/no. São Cristovão (ao lado da estação São Cristovão do metrô). Entrada gratuita. Aberto diariamente das 9 às 17h.

Museu do PrimeiroReinado – Solar da Marquesa de Santos  Avenida Pedro II, 293. São Cristovão. O museu encontra-se fechado para reforma.

Real Gabinete deLeitura  Rua Luis de Camões, 30. Funcionamento de segunda a sexta 9h-18h.

Confeitaria Colombo Rua Gonçalves Dias, 32 – Centro. (próximo à estação Carioca do metrô). Funcionamento 2ª a sábado – de 11:30h às 16:00h. Há outras unidades na cidade.

Carmem Miranda – Museu localizado no Parque do Flamengo. Veja no link, roteiro elaborado por Ruy Castro, autor da biografia da cantora.

Clarice Lispector – A página no Facebook “O rio de Clarice” oferece roteiros e informação da escritora. Já adianto que os principais bairros descritos pela autora são o Leme (onde morou) e Jardim Botânico.

Vinícius de Moraes e Tom Jobim – bar Garota de Ipanema (R. Vinicius de Moraes, 49) além da própria praia.

Nelson Rodrigues – Mário FilhoMaracanã (Avenida Presidente Castelo Branco, s/n – Portão 2)

domingo, 6 de julho de 2014

De carro até o fim do mundo!

Conhecer o fim do mundo é um desafio interessante até para os viajantes mais experientes. Lá é frio no verão e congelante no inverno, um ambiente hostil para qualquer aventureiro. E é assim que nós gostamos. Quando se escolhe fazer o percurso de carro o fim do mundo fica um pouco mais longe, mas mais instigante.
 
Ushuaia recebe o título de cidade do fim do mundo (apesar da contrariedade dos chilenos) por ser a cidade mais austral da Terra, ou seja, a mais próxima da Antártica. A cidade faz parte da Patagônia, região mais meridional da América do Sul que abrange lugares da Argentina e Chile, apresentando paisagens de tirar o fôlego.

Não é a toa que diversos viajantes colocam a Patagônia na lista de desejos, emoldurada pela Cordilheira dos Andes a região apresenta cenários exuberantes.

Pôr do Sol em algum lugar da Ruta 3, na Argentina

Em trinta dias é possível desvendar boa parte do seu território de carro, porém é difícil conhecê-la completamente neste tempo. A melhor ideia é escolher lugares específicos. Lembre-se que viajar de carro requer mais tempo do que uma passagem de avião. Mas cuidado, viajar de carro é viciante! Apresenta formas, cores e lugares de um país desconhecido até mesmo para as cidades turísticas.  

Ao mesmo tempo todo cuidado com o seu precioso carro é necessário, afinal ele é seu melhor amigo durante a viagem. Antes da viagem, faça revisões periódicas e converse com um mecânico sobre a possibilidade do carro suportar todo esse tempo viajando por aí.

O Brasil faz divisa com a Argentina, porém com a fama de policiais corruptos, é pelo Uruguai que muitos viajantes se sentem mais confortáveis para adentrar ao país. Da fronteira uruguaia, Chuí, até Colônia del Sacramento percorre-se aproximados 500 quilômetros. Sendo uma ótima oportunidade para conhecer nosso vizinho sulista. 

Entrada do parque em Ushuaia

Uma hora para comer umas empanadas, conhecer “Los Dedos” e de deixar boa parte dos pesos uruguaios em Punta Del Leste, seguimos para Colônia del Sacramento.  Ô cidade bonitinha! Foi ali que escolhemos dormir em um camping que não cuida do lugar que tem. O centro histórico de Colônia vale a visita, as construções históricas e árvores fazem um belo conjunto com o rio da Prata. Era 24 de dezembro e chivito, prato típico do país, foi a nossa escolha de ceia

No dia seguinte, partimos de balsa (Buquebus) para Buenos Aires, onde não paramos desta vez. Nossa parada final foi em Bahia Blanca. Os dias que se seguiram foram basicamente essa rotina: dirigir, dirigir, dirigir pela Ruta Nacional 3. Até a chegada em Ushuaia, paramos para tomar um decepcionante chá galês em Gaiman (somente uma casa de chá abre às 9h, além de tentarem nos cobrar preços absurdos após negociação nos serviram tortas do dia anterior com sabor de geladeira) e conhecemos a maior colônia de pinguins de Magalhães do mundo em Punta Tombo. E posso dizer que é no mínimo emocionante caminhar tão pertinho dos pinguins. Esticamos um pouco o trajeto para conhecer Isla Escondida, indicação do dono do restaurante onde tínhamos almoçado deliciosamente em Puerto Madryn, impressionados com o balneário ainda encontramos lobos marinhos descansando por ali, ao ar livre.

Punta Tombo

Nossa saga continuava, dias com sol e chuvas, estrada de uma reta só até encontrarmos o rípio (estrada de pedra) que diminui nossa velocidade, mas com cuidado conseguimos termina-la com somente um pneu furado. Chegávamos à primeira fronteira, o Chile estava ali. Repare no mapa mundi, por incrível que pareça para chegar ao fim do mundo, deve-se passar pelo país chileno. E não é só ali que isso acontece, por diversos pontos da Patagônia passa-se da Argentina para o Chile e vice-versa, diversas vezes.

Isla Escondida

Cruzamos a fronteira mais organizada da viagem, em um mesmo local fizemos saída e entrada dos países. Alguns quilômetros de rípio depois, entrávamos na Argentina novamente. Ushuaia se aproximava e as montanhas com neve nos recepcionavam. É mágico saber que está chegando ao fim do mundo. Chegamos em Ushuaia e corremos para ver a famosa placa do fim do mundo (só para te avisar: ela fica em meio as árvores do lado do píer que saem os barcos de passeio).

Foram três dias desbravando o fim e posso afirmar uma coisa: o tempo lá é instável e faz frio no verão. Chegamos a pegar zero grau celsius e chuva. Por sorte, conhecemos o Parque Nacional Tierra Del Fuego em dia de sol. Mas em Ushuaia é assim, muda-se o tempo todo. A tarde já estava nublado novamente.

Laguna Verde em Torres del Paine

O parque possui trilhas para todos os gostos: curtas, longas, íngremes, tranquilas. Porém é ali que termina a Ruta Nacional 3, a estrada que inicia em Buenos Aires e nos acompanhou até Ushuaia. Foram 3.063 quilômetros só nessa rota. Conhecemos o farol do fim do mundo e a diversa vida marinha do local, mas o tempo de férias era cronometrado e tínhamos mais para conhecer.

A nossa próxima parada era o Parque Nacional Torres del Paine, no Chile. De Ushuaia, atravessamos o Estreito de Magalhães novamente com destino a Punta Delgada e de lá para Puerto Natales. Um pequeno atraso de 7h30 na balsa por causa dos ventos patagônicos (Viento, mucho viento!) nos possibilitou colocar a leitura em dia. No dia seguinte, a estrada já nos data pistas da beleza que encontraríamos no parque. E ela surpreendeu. As cores do parque são uma oscilação incrível entre azul, cinza, verde e branco. As acomodações variam de hotéis luxuosos a campings organizados, a nossa escolha. De dentro da barraca observávamos as pontinhas das torres que dão nome ao parque. E foi prá lá que fomos no dia seguinte, até a base das Torres. Foram 8 horas de subida e descida que valem cada passo. Paine significa azul para os índios Aoinikenki. E o tom de azul é por causa do solo local. Eu realmente conheci um novo tom de cor.

Voltando da trilha da base de Las Torres, Torres del Paine - Chile

Infelizmente, teríamos que dar tchau para mais um lugar especial. O gostinho de voltar ficou nas borboletas que formaram no nosso estômago apaixonado. Mas nosso próximo destino era muito aguardado. Conheceríamos a terceira maior área com gelo do mundo, o Glaciar Perito Moreno nos aguardava imponente. Mal sabia eu que El Calafate me conquistaria. A cidade natal da presidente argentina se apresentou super chamosa. A única rua que cruza a cidade leva após setenta quilômetros ao sonhado glaciar além do Glaciarium, o museu com o tema gelo. No mesmo museu ainda encontramos o bar de gelo, sucesso entre os visitantes que permanecem por 25 minutos no open bar feito totalmente de gelo. Não se preocupe com as roupas, estão inclusas no preço de entrada ;)

Glaciar Perito Moreno

Para conhecer o parque há diversas atividades opcionais disponíveis, escolhemos o minitreeking sobre o glaciar onde durante 5 horas de passeio, se caminha por 1h30 no próprio gelo.  No valor de entrada do parque está incluso o acesso à bem estruturada passarela com visão ampla do glaciar: avista-se cinco quilômetros de largura e 60 metros de comprimento. Os sons de pedaços de gelo caindo soam como trovões e nos relembram a força da natureza.

Península Valdez

De El Calafate a Patagônia continua gelo acima. Pela Ruta Nacional 40 sobe-se ao norte de Bariloche, sempre brincando de conhecer o lado chileno e argentino. Mas para nós a viagem estava tomando o rumo de casa. Com trinta dias, pouco tempo para continuarmos pela ruta 40, optamos por retornar ao Brasil e conhecer alguns outros pontos pelo caminho. Foi então que paramos na Península Valdez, esculpida pela água o local forma paisagens de tirar o fôlego na sua costa. Há três mirantes bem próximos ao mar. Lobos e leões marinhos fizeram a festa, somente a orca não estava por lá.

Always Buenos Aires!

A próxima parada foi um delicioso domingo por San Telmo, em Buenos Aires. Verão, arte e história reunidos na feirinha do bairro portenho. Buenos Aires sempre é uma boa opção. Mas nosso relógio chamava e paramos no Mercado do Porto de Montevideo, no Uruguai, para escolher uma carne dentre tantas opções.

Igrejinha de Canela - RS

No Brasil, a opção foi fugir da alta temporada das praias e conhecer a serra. Infelizmente, conhecemos somente duas vinícolas no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves – RS, a casa Vaudulga e Miolo. E ficou aquele gostinho de quero mais. Deixei a região planejando a próxima viagem para lá.

Gramado e Canela também entraram no roteiro e são encantadoras até no verão. Uma escapadinha para Três Coroas – RS nos presenteou com a visitação do belo templo tibetano Kadro Ling, sede do Chagdud Gonpa Brasil (organização de estudo do Budismo tibetano). A paz, aqui, é colorida e silenciosa.

Já nos aproximávamos de São Paulo e de nossas obrigações, era hora de agradecer a segurança de rodar 14.622 quilômetros com um carro de passeio sem danos ao carro e a seus tripulantes. Obrigada férias, até a próxima!